quarta-feira, 7 de julho de 2010

OBSERVANDO ARACAJU COM OS OLHOS DE VERÔNICA NUNES

Karla Karine de Jesus Silva
Discente do DHI-UFS
Em Aracaju: um olhar sobre o patrimônio, Verônica Nunes faz uma breve análise da cidade de Aracaju, desde a sua fundação às transformações que sofreu no século XX, refletindo sobre o conceito de patrimônio nesta perspectiva.
Verônica Nunes inicia sua apresentação conceituando patrimônio, patrimônio histórico e a abrangência do conceito, que se ampliou a partir de 1960 incluindo não apenas monumentos, como delineava o modelo francês de patrimônio, mas, todas as formas de arte, edificações, ruas, cidades inteiras, etc., (p.46).
É a partir do conceito de que a cidade pode ser um patrimônio histórico que Nunes insere Aracaju. Começa descrevendo a fundação de Aracaju (1855) nos pilares da modernidade. Projetada por Sebastião José Basílio Pirro, sua forma original é geometricamente rígida, com quarteirões retangulares, sendo uma das primeiras cidades brasileiras a seguir esta tendência. Só no final dos anos 1970 até meados da década de 1990, este modelo é contraposto por uma arquitetura mais contemporânea, verticalizada, com a presença de shoppings centers – comércio e lazer unificados no mesmo espaço – e um crescimento que dispensa a rigidez geométrica, mais irregular.
De 1855 a 1990, Aracaju passa por modificações importantes. Nunes menciona, por exemplo, a Praça ou Parque Olímpio Campos, onde o patrimônio arquitetônico e paisagístico foram metamorfoseados: a Igreja de N. S.ª da Conceição, atual Catedral Metropolitana, o Tribunal de Relações, atual sede do Arquivo Geral do Judiciário, a Escola Normal, atual sede da Arquidiocese de Aracaju, e, taba de índios, cascatas, zoológico, aquário – introduzidos em 1928 (p.49).
Em seguida, a autora passa a analisar a Praça Fausto Cardoso, originalmente neoclássica modificou-se para o estilo eclético, peculiar do século XX (p.51). A Ponte do Imperador, um atracadouro construído sobre o cais para receber o Imperador D. Pedro II e a Imperatriz D. Tereza Cristina, é outro “lugar de memória” descrito por Nunes.
Nos anos 1930-1940, na chamada arte do Estado Novo, elementos marcantes desta época são alistados, como o Instituto Histórico e Geográfico, o Palácio Serigy, o Corpo de Bombeiros, a Igreja N. S.ª Menina e o Cinema Rio Branco (p.52). As ruas do Barão, Japaratuba, João Pessoa são exemplos de mudanças freqüentes. O Beco dos Cocos e os mercados pontos de atração da cidade, Antônio Francisco e Thales Ferraz, não passam despercebidos ao olhar da autora.
Os anos 1960-1970 são marcos de expansão da cidade. Já 1980-1990, além da adesão aos modelos contemporâneos em arquitetura, surge um projeto de revitalização do Centro Histórico. Dessa forma, Nunes observa atentamente a fundação e modificação de Aracaju, pontuando os bens materiais que em cada uma das épocas descritas, serviram de lugares de memória da cidade.
Verônica Nunes pauta suas reflexões sobre a cidade de Aracaju, enquanto patrimônio histórico, especialmente a partir da descrição de poetas regionais, na forma em que eles enxergaram os momentos e os diversos patrimônios materiais e imateriais da cidade. Entendemos então que Aracaju não só está cheia de patrimônios históricos, mais também é ela mesma um patrimônio histórico.
Gilsa Borges (p.48), Tom Robson (p.49,50), Santo Souza (p.51,52), Jacinto de Figueiredo (p.53), Paulo Lobo (p.54), Gil Macedo (p.55), Alcides Melo (p.56), são alguns dos poetas apresentados por Nunes. Também as canções: “Símbolos de Aracaju”, de José Sales de Campos e José Albuquerque Feijó, hino criado em 1955 em homenagem ao centenário da cidade; “Aracaju Uma Estrela” (1972), de Antonio Garcia Filho; e “Atalaia”, de Antonio Vilela de melo, em comemoração aos 148 anos da cidade.
Desta maneira, Verônica Nunes, em seu texto, lança um olhar e nos convida a ver com ela alguns dos elementos mais significativos de Aracaju enquanto patrimônio, herança de um povo. “No meu olhar sobre Aracaju”, conclui Nunes,

“(...) deixo o sentido de que o patrimônio histórico e monumento são noções que esclarecem de forma privilegiada a relação com a temporalidade, constituída de acréscimo e fusão de fragmentos que nos permite apreender a cidade, não somente por ela ser um objeto fiel e comprovado, mas por se tornar uma lembrança dos aracajuanos no futuro (p.59)”.


Referência Bibliográfica:

NUNES, Verônica. Aracaju: um olhar sobre o patrimônio. p.45-62.

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