domingo, 2 de outubro de 2011

Do real ao virtual: digitalizando em 3D o patrimônio arqueológico do Museu do Homem Sergipano

Texto: Raquel de Andrade Dantas Figueirôa (Graduada em Comunicação Social e Pós-Graduada em Comunicação Digital r.jor@hotmail.com)
Fundado em 1996, o Museu do Homem Sergipano (MUHSE), localizado em Aracaju, mantido pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), surgiu a partir da visão de que os espaços museais, além de guardar, preservar e divulgar bens culturais, apresentam-se como um dos caminhos mais profícuos para divulgação das produções acadêmicas. Mas se observa que não há, em nenhuma das tecnologias existentes, qualquer arquivo digital, de qualquer peça ou achado que seja, exposto ou disponível atualmente no MUHSE. Com isso, percebe-se claramente que o acervo arqueológico do museu permanece apenas acessível de forma presencial ou in loco. O MUHSE foi baseado no livro "Textos para a História de Sergipe", publicado pelos Departamentos de História e Ciências Sociais da UFS, além de material resultante do Projeto Arqueológico Xingó (PAX) que ilustra a fase da pré-história do nosso Estado, tem seu acervo constituído de artefatos arqueológicos, objetos etnológicos, mobiliários, cédulas e moedas, artes plásticas e objetos de ciência e tecnologia.

O acervo do MUHSE é constituído por peças provenientes de escavações arqueológicas. Possui aproximadamente 96 peças, entre as quais destacamos: um colar com 67 contas, Núcleo, Pilões, Batedores, Ocres, Fogueira com oito pedras e cerâmicas. Este trabalho pretende apresentar uma proposta para “imortalizar” o acervo arqueológico do MUHSE, digitalizando os seus objetos, tanto por meio de imagens fixas quanto em movimento com recursos em 3D. O acervo poderá ser completamente disponibilizado em um espaço virtual construído por meio do software livre Xoops com banco de dados Mysql que permitirá aos visitantes, descobrir um novo olhar, através da internet. Além de guardar, preservar e divulgar os bens culturais para as gerações atuais e futuras, apresentando-se como um espaço de informação, conhecimento e cultura, através das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Funari, em ‘Arqueologia e Patrimônio’, afirma que há uma falta de comunicação entre o mundo acadêmico, em particular a comunidade arqueológica, e o povo. “Informação, criação de consciência, ação no mundo, transformação, eis as metas da preservação”.

internet vem evoluindo a cada dia, novas funções e usos são acrescentados aos mecanismos de busca, utilizados como fontes de informações, entretenimento, serviços, educação e comunicação entre as pessoas.  Desse modo, partimos do pressuposto de que os profissionais de hoje precisam compreender que, além dos princípios básicos da Arqueologia e Museologia, necessitam reformular seus processos, interagindo nesse contexto de mudanças tecnológicas. Criar espaços criativos, flexíveis, dinâmicos e participativos, valorizando à inteligência coletiva e com foco no usuário, são desafios para os profissionais da arqueologia de hoje.

Em sua obra ‘Memória do Futuro’, David Chermann (2008) ressalta a importância dos registros arqueológicos digitais. “Os registros, inscritos nos bancos de dados, advindos da digitalização das informações analógicas (papel, iconografia, relatos orais, vídeos, etc.) passam a ter uma dinâmica diferente com as novas e
inúmeras possibilidades de se estocar toda a informação disponível de forma ativa e não mais estática.

Esses registros digitais permitem cruzamentos, simulações e criação de modelos, que podem ser constantemente avaliados e interpretados, em confronto com a realidade,  como também possibilitam a inclusão de novos conhecimentos, oriundos dessas simulações e  cruzamentos...”.

Os últimos anos que a sociedade vem passando estão sendo marcados por mudanças significativas e grandes evoluções tecnológicas. As mudanças no campo das ciências, da medicina e, principalmente, da informática são frequentes. A sociedade já viveu vários tipos de revolução: a industrial, a das telecomunicações e, atualmente, a revolução da informação. Vivemos na era da informação, na qual a rede mundial de computadores será à base de recepção e transmissão de informação e comunicação. Em ‘A era da informação: economia, sociedade e cultura’, Castells (2002) revela que “a Internet tem tido um índice de penetração mais veloz que qualquer outro meio  de  comunicação na história: nos Estados Unidos, o rádio levou 30 anos para chegar a sessenta milhões de pessoas; a TV alcançou esse nível de difusão em 15 anos; a Internet  fez  em  apenas 3 anos”. Com isso, observa-se que cada vez mais a sociedade se insere nesse novo contexto web, por isso da necessidade do MUHSE acompanhar esse crescimento, procurando adaptar-se às demandas gradativamente em todo o mundo.

Diversos pesquisadores tem se dedicado ao estudo da preservação do acervo do patrimônio arqueológico, mas poucos sob o olhar digital. A importância da preservação de achados arqueológicos e as alternativas que buscam garantir a proteção à informação de valor permanente garantem acesso à educação patrimonial material para as gerações atuais e futuras. Trigger (2004), em ‘História do pensamento arqueológico’, ressalta a importância da computação na Arqueologia: “a proliferação de formas eletrônicas de tratamento de dados revolucionou a análise arqueológica tanto quanto a datação por radiocarbono. [...] A computação permite aos arqueólogos usar os abundantes dados ao seu dispor em busca de uma padronização mais detalhada dos testemunhos arqueológicos e permite-lhes testar hipóteses mais complexas”.

O Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro abriga um dos acervos mais importantes da América do Sul. São coleções egípcias, de Dom Pedro I e Dom Pedro II, Greco-Romana, Pré-Colombiana; além de exemplares da antropologia biológica e de paleovertebrados. A grande maioria do seu acervo está digitalizado em formato 3D. O processo deu início com o projeto Geração de Imagens Digitais das Coleções do Museu Nacional que recorre a modernas técnicas de digitalização e modelagem tridimensional: o escaneamento 3D a laser e a prototipagem rápida. A técnica consiste no uso de tecnologias não invasivas para obtenção de imagens virtuais das peças. Isso possibilita a análise profunda da estrutura de múmias e fósseis de dinossauros por meio da tomografia computadorizada. As imagens geradas nesses exames médicos ou nos scanners 3D a laser são transformadas, por meio de ferramentas digitais, em arquivos virtuais 3D. Esses dados são enviados em tempo real para máquinas de prototipagem rápida, que finalmente os transforma em réplicas precisas e concretas, tridimensionais, das peças analisadas. A prototipagem rápida, que permite a elaboração de réplicas físicas fiéis às peças, oferece muitas vantagens para a pesquisa. O uso dessa tecnologia evita o manuseio das peças, contribuindo para a conservação do acervo, possibilitando ao visitante, conhecer a fundo o material pesquisado, permitindo o acesso às informações e detalhes da estrutura das peças que dificilmente seriam encontrados a olho nu. Além de ser uma importante ferramenta para a reconstituição da história, a técnica permite que as réplicas sejam utilizadas para o intercâmbio entre os centros de pesquisa, que muitas vezes guardam peças complementares no processo de construção do conhecimento, que se encaixam como um grande quebra-cabeça científico.

A autora deste trabalho conclui que a criação de um ambiente virtual, através das TIC, vai contribuir para o desenvolvimento, divulgação e imortalidade dos achados arqueológicos do MUHSE. Com a digitalização do acervo, os registros e as informações das peças catalogadas irão transmitir conhecimento por meio de uma educação patrimonial tão eficaz quanto de forma presencial. É o olhar do real para o virtual. Este artigo visa colaborar com os debates sobre o tema, abordando a importância da preservação de achados arqueológicos, não somente expostos em museus, mas também no ciberespaço. É o início de algo ainda muito maior e mais trabalhado, fará parte de um projeto de pesquisa de Mestrado.

É também Tutora a Distância dos Cursos Educar e estudante do curso de Museologia da Universidade Federal de Sergipe. Este artigo teve a orientação do Prof. M.Sc. Fábio Figueirôa, como atividade final da disciplina Produção de Texto I. Este texto pode ser acessado no www.museologiaufs.com.br

Fonte: http://www2.jornaldacidade.net/artigos_ver.php?id=9962

Nenhum comentário:

Postar um comentário